domingo, 23 de setembro de 2012

Blur - "Beetlebum"

"And when she lets me slip away..."


Em meados da década de 90, os Blur disputavam com os Oasis o domínio da cena musical do Reino Unido. Juntas (com a ajuda de mais um leque de outras bandas como os Pulp, os Suede, ou os Elastica), formavam o núcleo duro do movimento Britpop e conseguiram diluir a incessante "americanização" da música britânica, resultante da explosão do grunge e da invasão das tabelas do UK por bandas como os Nirvana, os Pearl Jam, ou os Soundgarden. Contra este tipo de música "I Hate Myself And Want To Die" do grunge (ressalvando que esta generalização não corresponde, obviamente, à totalidade da música americana da época), as bandas britânicas retaliaram com uma mensagem mais positiva e mais de acordo com as suas origens.

Damon Albarn previu que o público do seu país iria abraçar esta nova mensagem, de acordo com a sua herança, em detrimento do grunge e os Blur apostaram forte no sentimento british, com os seus álbuns "Modern Life Is Rubbish" (1992) e "Parklife" (1994). Por esta altura, surgia então a outra grande banda do Britpop, com o seu dilacerante álbum de estreia "Definitely Maybe". Falo, obviamente, dos Oasis.

Os Oasis e os Blur começaram por trocar elogios, como duas bandas do mesmo movimento a disputarem um lugar nas luzes da ribalta. Damon Albarn e Graham Coxon mostraram o seu respeito pelos Oasis quando nos Brit Awards de 1995 (que "limparam" com o seu álbum "Parklife"), lhes dedicaram o prémio de "Melhor Banda". No entanto, os irmãos Gallagher nunca foram especialmente conhecidos pela sua boa educação e começaram a olhar para os Blur como um adversário.

Alimentado pela imprensa e pela indústria discográfica britânica, ávidas de lenha para a fogueira do lucro, o conflito entre os Oasis e os Blur teve o seu apogeu na famosa "Batalha do Britpop" que, a 14 de Agosto de 1995, pôs o Mundo em expectativa para saber quem ia tomar o 1º lugar das tabelas de singles britânicas. O conflito era comparado ao dos The Beatles contra os The Rolling Stones, 30 anos antes. Escusado será dizer, que as tabelas de singles britânicas ferviam como nunca e naquelas semanas foram batidos recordes de vendas dos últimos 10 anos.

Frente a frente, estavam "Roll With It" pelos Oasis (2º single de "(What's the Story) Morning Glory?") e "Country House" pelos Blur (1º single de "The Great Escape"). Na "Batalha do Britpop", os Blur ganharam, vendendo 274 mil cópias, contra 216 mil dos Oasis. Mas se os Blur ganharam a batalha, foram os Oasis que venceram a guerra.
Depois do lançamento de "Wonderwall", o álbum "(What's the Story) Morning Glory?" tornou-se num fenómeno de vendas no Reino Unido (4 Milhões (!!!) de cópias só no UK, tornando-se no 3º álbum mais vendido de sempre nas ilhas) e obteve enorme sucesso nos EUA (chegou ao nº 4 das tabelas), algo que os Blur nunca conseguiram.

Como resultado, os Blur acabaram o ano ridicularizados no Reino Unido, passando do estado de graça de "banda mais fixe" do Reino Unido em 1995, para a "banda dos choninhas", um ano mais tarde. Era anunciada a vitória da classe operária do Norte de Inglaterra, representada pelos Oasis, contra a classe intelectual do Sul, representada pelos Blur.
Nos Brit Awards de 1996, um ano depois da homenagem dos Blur, os Oasis resolveram devolver o mimo de uma forma ligeiramente diferente...


(note-se na qualidade dos nomeados para álbum do ano no Reino Unido em 1996 e compare-se com o marasmo vivido nos últimos anos...)

Para Graham Coxon, guitarrista dos Blur, chegara a hora de uma mudança de estilo. Fã de sempre de música underground britânica, Graham estava então imerso no Indie Rock americano, de bandas como os Sonic Youth ou os Pavement.
Inicialmente, a mudança proposta por Coxon não foi bem vista pelos outros membros da banda, mas com o tempo, Albarn deixou-se conquistar por aquele tipo de música mais caótico, em favor da sua Pop mais meticulosa, em parte responsável pelo ridículo em que a banda tinha caído.


E foi assim, na onda desta revolução na sua sonoridade, que os Blur endureceram e nos ofereceram aqueles que são, para mim, os dois grandes álbuns da banda: o homónimo "Blur", de 1997 e "13", de 1999.
A sequência de abertura de "Blur" não fazia por menos e apresentava desde logo os 2 primeiros singles do álbum - "Beetlebum" e "Song 2" - os veículos que os levariam à outra margem e devolveriam o respeito da sua audiência. O álbum acabaria por notabilizar-se mais com o seu 2º single "Song 2", mas o grande momento dos Blur, para mim, é mesmo este "Beetlebum".
"He's on, he's on, he's on it..."
Com "Beetlebum", Damon Albarn abriu as portas dos dramas da sua própria vida. O tema é sobre o seu vício da heroína, sendo que a "Beetlebum" é ela mesmo: a heroína.
Nas palavras do próprio Damon:



Não que eu não goste do material mais antigo dos Blur, mas quando eles fizeram esta transição de Britpop, para Britrock (chamemos-lhe assim) mostraram que, afinal, não eram apenas capazes de fazer música mordaz e irónica, com narrativas satíricas sobre a sociedade britânica. Para além disso, os Blur tinham sentimentos reais e eram capazes de os mostrar, com narrativas mais terra-a-terra e música mais dura e menos polida.


Graham Coxon queria com "Blur" fazer música "que voltasse a assustar as pessoas". Aquele solo de guitarra no fim de "Beetlebum" fez-me exactamente isso quando o ouvi pela primeira vez. Missão cumprida. Estavam aí os novos Blur.

8 comentários:

  1. Ah, a eterna luta entre os Blur e os Oasis! lol

    Na altura do "(What's the Story) Morning Glory?" eu gostava imenso dos Oasis, era dos álbuns que mais ouvia. Ainda hoje, se ouvir uma "Wonderwall" ou "Don't Look Back in Anger" canto-as como se não houvesse amanhã :P Trazem-me imensas memórias dos tempos de escola... Também gostava do "Be Here Now" mas depois disso fui-me desligando, também comecei a ouvir outras coisas que me entusiasmavam mais. E o feitio dos Gallagher também me irritava bastante, ainda hoje em dia. Principalmente o Liam, que douchebag do pior! :P

    Já os Blur, na altura gostava dos singles mas não tinha vontade de explorar mais... E o engraçado é que hoje em dia, mais facilmente iria ouvir algum álbum dos Blur e reconheço-lhes o valor que na altura me passava um bocado ao lado. Se surgisse a oportunidade de os ver ao vivo por cá (como aconteceu em Londres este ano na altura do encerramento dos Jogos Olímpicos), não hesitava enquanto que se fosse os Oasis (hipótese mais que remota porque eles não se entendem de forma nenhuma lol) não teria grande vontade.

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    1. Os irmãos Gallagher são os maiores, o que eu já me ri com eles! Principalmente com o Noel, que era o cérebro da banda (em TODOS os sentidos) e é, DE LONGE, o entrevistado mais fantástico de todas as estrelas Rock. O Liam é o clássico hellraiser e também me divirto à brava com as parvoíces que ele faz e diz, porque aquilo é tudo sincero. Em ambos nada é plástico e por isso é que gosto tanto deles (mesmo com a falta de educação). Dizem o que pensam e pronto.
      Eles vieram de uma família muito pobre de Manchester e cresceram como dois rufias. Entretanto, o Noel cresceu e socializou-se. O Liam permaneceu o mesmo rufia. :)
      Mas digo-te uma coisa, se eu desse uma festa e pudesse convidá-los, adorava que o Noel viesse, já o Liam... :P

      Relativamente à música (que é o que mais importa), percebo perfeitamente o que dizes. Na altura eu já gostava dos Blur, mas não tanto como gostava dos Oasis. Hoje gosto mais dos Blur do que gostava na época e na época gostava mais dos Oasis do que gosto hoje (seria difícil o contrário). Mas a verdade é que continuo a gostar mais dos Oasis do que dos Blur.
      Em todo o caso, quanto à guerra entre eles, sempre achei que foi um daqueles momentos lendários da História do Rock. Foi a primeira "cena" musical que eu vivi in loco, por isso também me vai maracar para sempre. Mas não tomo um partido de gostar de uns em detrimento dos outros. Gosto de ambos!! (mas mais dos Oasis ;) )

      Os Oasis passaram ali uma fase um pouco escura, na primeira metade dos anos 00 (post para breve ;) ), mas recuperarm em grande no último álbum! Quando eu achei que eles estavam definitivamente de volta, pum, acabaram :(

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    2. Haviam de ser meus filhos que eu dizia-lhes como é! :P
      Eu percebo o que dizes, gostas da honestidade deles. Há coisas que acho piada (tipo o Liam na semana passada ou que foi, expulsaram-no do jogo do Real-Man City lol ou ainda há dias o Noel que disse que os Oasis foram a melhor coisa a sair de Inglaterra nos últimos 35 anos! LOL!). Mas quando começam a ofender outras bandas, acho que é escusado...

      Eu também me lembro muito bem dessa guerra entre eles. Aliás, criada pelos Gallagher porque a ideia que dá é que os Blur foram apanhados um bocado de surpresa. É bullying Nuno! :P rufias do pior o:)

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    3. Isso faz tudo parte! Eles são mesmo rufias por natureza (o Liam, porque o Noel já está muito mais calmo) e aquilo sai-lhes automaticamente.
      Hei-de procurar uns vídeos no youtube com compilações de entrevistas do Noel, é de partir a rir!
      Já o Liam, o gajo está-se completamente a cag** para as bandas "da moda", ou dos "hipsters" (lá está :P ) e leva tudo à frente. No meio daqueles disparates todos, diz muita verdade!! :P
      No outro dia disse que nunca tinha ouvido o "OK Computer" (o que é obviamente mentira), nem queria e os fanboys dos intocáveis Radiohead caíram-lhe todos em cima. O que eu me ri com isso :D
      Adoro o "OK Computer", é bem melhor que o "Be-er Now" que os Oasis lançaram no mesmo ano (1997), o próprio Noel será o primeiro a reconhecer isso, mas só de ver os fanboys dos inapeláveis Radiohead a terem um ataque de urticária à custa do Liam (começa a ler o artigo da Blitz e vê com os teus próprios olhos), já vale a pena ele cá andar! :P
      Pá, é como já falámos, eu até gosto imenso dos Radiohead, especialmente daquela fase late 90's, mas toda aquela doutrina em como tudo o que eles fazem é perfeito... Meh.

      Os Blur, coitados, tens razão. Foram mesmo apanhados na linha, pelo comboio dos Oasis... Eles até queriam ser amiguinhos e tal, mais os Gallagher tinham outros planos! Hehe
      E convenhamos, mesmo à custa de uma depressão para o Graham e o Damon, deu-nos muito que rir (e às editoras, que vender) durante os anos 90. :D

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    4. Ah e essa do Liam ser expulso do Bernabeu no Real-City... Classic Liam :D

      Quando a notícia saiu no site da Marca, estava toda a gente a malhar no rapaz e eu só comentei... MAD FER IT!!! :p

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    5. Sim, essa dos Radiohead vale pela reacção dos fanáticos fundamentalistas deles :P daquelas coisas para assistir a comer pipocas lol

      :D quem foi ver esse jogo pagou para ver o jogo e ainda teve o bónus de assistir a essa cena :P

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  2. beetlebum é uma das minhas músicas preferidas de sempre.

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    1. Também adoro. E aquele solo de guitarra no fim, que parece que nunca acaba... mas quando acaba fico sempre com a sensação que devia durar mais um bocadinho! :)

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